Tag: tensões geopolíticas

  • EUA buscam energia de Itaipu, acendendo tensões históricas entre Brasil e Paraguai e elevando preocupações sobre a influência americana na região.

    O desejo crescente dos Estados Unidos de adquirir a energia excedente da usina de Itaipu, especificamente aquela gerada pelo lado paraguaio, traz à tona tensões históricas entre Brasil e Paraguai. A exploração desse recurso energético não apenas pode influenciar a segurança energética do Brasil, mas também comprometer investimentos em integração regional no continente sul-americano.

    Recentemente, o cenário foi intensificado pela crescente demanda por energia, especialmente em função da expansão dos data centers e dos avanços na inteligência artificial. Segundo especialistas em relações internacionais, como Regiane Bressan, a proposta americana aponta para uma política pragmática que visa inserir empresas de tecnologia na região, utilizando as energias limpas disponíveis. Este movimento, segundo analistas, gera inquietude no Brasil, que percebe a interferência de uma potência extrarregional em uma área tradicionalmente marcada por disputas bilaterais.

    Bressan também destaca que a energia excedente de Itaipu é gerida por um acordo binacional que historicamente permitiu ao Brasil acessá-la a um custo reduzido. A possibilidade de os Estados Unidos monopolizarem essa energia coloca em risco a viabilidade de um recurso renovável que poderia ser vital para diversas iniciativas brasileiras.

    Além das tensões energéticas, surgem ainda acusações de espionagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra instituições paraguaias, prática que se intensificou durante os últimos três governos brasileiros. Vinícius Rodrigues Vieira, professor da Fundação Armando Alvares Penteado, enfatiza que esse tipo de atividade pode minar a confiança bilateral essencial para a integração sul-americana.

    Outro ponto que complica a relação é a ascensão do Paraguai em direção a uma maior aproximação com os EUA, impulsionado pela afinidade política entre o novo presidente paraguaio e a administração de Donald Trump. Essa mudança pode ser vista como uma estratégia americana para evitar qualquer projeto regional que busque maior autonomia.

    Criar um novo pacto sobre a gestão da energia de Itaipu, que inclua contrapartidas tecnológicas e um planejamento integrado, poderia ser uma possível saída para o impasse. Entretanto, o histórico de desconfiança, agravado pela assimetria econômica entre os dois países – a cidade de São Paulo, por exemplo, possui um PIB superior ao de todo o Paraguai – ainda desafia qualquer esforço de aproximação.

    A complexidade dessa situação não se limita ao campo energético; ela ressoa com o peso da história e permite perceber que, numa era de novos alinhamentos geopolíticos, a autonomia do Paraguai é um fator crucial, não apenas para sua própria soberania, mas para a estabilidade regional.

  • Pashinyan Intensifica Ataques à Igreja Armênia em Movimento de Ruptura com Influência Russa, Afirmam Especialistas sobre Contexto Político Regional.

    O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, tem demonstrado nas últimas semanas uma postura francamente crítica em relação à Igreja Apostólica Armênia, levantando questões sobre sua autonomia e a influência russa no país. Especialistas analisam que essa abordagem do governo reflete uma tentativa mais ampla de romper com laços históricos e simbólicos que uniam a Armênia à Rússia, com a religião assumindo um papel central nessa transformação.

    Guilherme Conceição, especialista em Relações Internacionais, sugere que Pashinyan está buscando deslegitimar a Igreja ao acusá-la de ser controlada por um grupo considerado “anticristão, imoral e antinacional”. Em suas recentes declarações, o premiê prometeu liderar uma luta contra a Igreja, especificamente contra o patriarca Karekin II e suas lideranças. A retórica adotada pelo governo armênio parece buscar transformar o debate político em uma cruzada contra o clero, impactando a diversidade cultural e espiritual que compõe a identidade da nação.

    A relação entre o governo e a Igreja deteriorou-se de forma tal que ações drásticas foram tomadas, incluindo a invasão de locais sagrados e a detenção de líderes religiosos. Um episódio notável ocorreu em junho, quando agentes de inteligência prenderam o arcebispo Mikael Adzhapakhyan, e rumores sem fundamento cercaram Karekin II, assinalando um período turbulento para a Igreja no país.

    O contexto dessa perseguição se intensifica com a atuação da Igreja Apostólica Armênia nas críticas ao governo, especialmente em relação ao conflito com o Azerbaijão e as concessões territoriais feitas. A detenção do arcebispo Bagrat Galstanyan durante manifestações pró-democracia exemplifica o uso do aparato estatal para silenciar vozes dissidentes.

    Além disso, a inquietação em torno do tratamento dado à Igreja levou o Conselho Mundial de Igrejas a expressar preocupação e a apelar pelas autoridades armênias para que respeitem as instituições e figuras religiosas, ressaltando a importância de evitar declarações que fomentem hostilidade.

    O movimento de Pashinyan se traduz também numa reorientação geopolítica, à medida que o governo se aproxima de potências ocidentais como os Estados Unidos e a União Europeia. A busca por distanciamento da influência russa sugere um desejo por alinhamento com novos parceiros estratégicos, mesmo que isso custe a repressão de vozes tradicionalmente ligadas à cultura armênia.

    Neste cenário, observa-se uma “ucranização” da Armênia, onde o governo enfrenta o desafio de equilibrar suas aspirações ocidentais e a rica herança histórica que tece a rotina do país. O futuro político da Armênia continua incerto, mas o governo de Pashinyan parece determinado a moldar um novo caminho, mesmo que através de um crescente conflito interno.