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  • POLÍTICA – Lula e Peña discutem espionagem e retomam negociações sobre Itaipu em encontro bilateral, destacando a importância do diálogo entre Brasil e Paraguai.

    Na última quinta-feira, 3 de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu em Buenos Aires com seu homólogo paraguaio, Santiago Peña. Essa conversa, que ocorreu antes da 66ª Cúpula do Mercosul, foi marcada por um tema delicado: as investigações relacionadas a uma operação de inteligência da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Essas investigações têm como alvo a obtenção de informações sigilosas de autoridades paraguaias que estiveram envolvidas em negociações sobre a usina de Itaipu — um empreendimento binacional.

    O caso de espionagem, que teve seu início durante a presidência de Jair Bolsonaro, gerou repercussões adversas nas relações entre Brasil e Paraguai, levando o país vizinho a suspender formalmente as discussões sobre o Anexo C do Tratado de Itaipu. Esse anexo é fundamental, pois regula os valores da energia excedente gerada pela usina.

    A situação gerou desconforto e desconfiança entre as duas nações, que tradicionalmente mantêm laços de fraternidade. Após a reunião, Peña se manifestou, expressando preocupação em relação ao incidente de espionagem e enfatizando a necessidade de um esclarecimento completo por parte das autoridades brasileiras. Lula, por sua vez, reiterou a importância do respeito e do diálogo contínuo entre os países, manifestando disposição para resolver a crise e retomar as conversas sobre Itaipu.

    Durante o encontro, ambos os líderes concordaram em reiniciar a análise do Anexo C e discutir de forma abrangente temas relevantes à agenda bilateral. O presidente Lula aceitou o convite de Peña para visitar o Paraguai e por sua vez, convidou o presidente paraguaio a vir ao Brasil.

    Além da questão da usina, outros tópicos importantes foram abordados, incluindo projetos de infraestrutura que visam melhorar a conectividade entre Brasil e Paraguai. Um exemplo é a Ponte da Integração, que está avançando rapidamente, com 80% das obras já concluídas do lado brasileiro, com previsão de término para dezembro. Também foi discutido o Corredor Bioceânico, uma ambiciosa iniciativa de infraestrutura que visa conectar o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, facilitando a ligação viária entre Brasil, Paraguai, Argentina e Chile.

    Esse movimento em direção ao diálogo e à colaboração oferece esperança para a superação da crise atual, destacando a necessidade de um entendimento mútuo e estratégias conjuntas para o futuro.

  • Especialista em China denuncia fake news e ameaças de morte após espionagem pela Abin

    Especialista em China Denuncia Monitoramento Ilegal e Ameaças de Morte

    O professor Evandro Menezes de Carvalho, associado de direito internacional na Universidade Federal Fluminense (UFF), revelou ter sido alvo de um monitoramento ilegal prolongado, realizado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O caso envolveu práticas que, segundo ele, retratam uma grave violação dos direitos dos cidadãos no Brasil.

    Durante um período de oito meses, entre setembro de 2019 e maio de 2020, Carvalho foi monitorado em mais de 100 ocasiões, com seu celular sendo alvo de escuta e suas atividades diárias sendo vigiadas. O professor recebeu um relatório da Polícia Federal que menciona seu nome em diversas instâncias, revelando a intrusão inaceitável em sua privacidade. Em entrevista, Carvalho expressou que, embora se sentisse indignado, não estava surpreso com a revelação, uma vez que já suspeitava de que algo assim estivesse acontecendo.

    Ele criticou a Abin por se desviar de sua função republicana e se transformar em uma ferramenta de vigilância para interesses políticos, especialmente sob a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Para Carvalho, essa "Abin paralela" visava silenciar vozes críticas e manter um controle ideológico sobre adversários políticos, utilizando métodos que remetem a práticas de repressão.

    O especialista também destacou o paradoxo das relações entre Brasil e China, enfatizando que, apesar de a direita brasileira, incluindo setores do agronegócio, lucrar das transações com o gigante asiático, a narrativa popular frequentemente demoniza a China. Carvalho foi especificamente alvo de uma campanha de desinformação que o rotulou como "espião chinês", relacionada a figuras proeminentes da política nacional, o que ele categoricamente nega.

    Mesmo diante das ameaças e das fake news, o professor ressalta a importância de se criar um entendimento mais profundo sobre as relações entre Brasil e China, friso que a estrutura política nacional ainda é dominada por interesses que não refletem uma visão crítica ou informada sobre o país oriental. Em suas palavras, essa dinâmica é prejudicial não apenas à verdade, mas também aos interesses nacionais, alinhando-se, em última análise, aos desejos de potências estrangeiras que veem a China como uma ameaça.

    Com essa experiência, Carvalho se firmou como um símbolo da luta contra a desinformação e as práticas de vigilância estatal, enfatizando a necessidade de um debate livre e esclarecido sobre as relações internacionais e a soberania nacional.